Maria plantou um pé de manga manteiga e esperou quatro anos pra ver ele crescer e botar. A manga manteiga – ou de massa, ou de quilo – tem esse nome por causa da sua textura. Derrete na boca quando madura. É grande, doce e carnuda, e tem o caroço pequeno.
Já botador, o pé de manga alimentava Maria, seu marido José, as vizinhas e vizinhos e os passantes da beira da BR 135, que margeia a casa de taipa do casal de lavradores no território quilombola Santa Maria dos Pinheiros, precisamente na comunidade de Colombo, zona rural do município de Itapecuru-Mirim, Maranhão.
Para o período do verão nordestino, entre junho e dezembro, quando as chuvas cessam e o sol arde mais, Maria criou um método de irrigação para não deixar a mangueira com sede. Fez um buraco de uns 30 centímetros no pé da árvore, e encaixou nele uma garrafa plástica de refrigerante sem uma das extremidades e com um furo na tampa, do outro lado, propiciando uma vazão lenta e contínua de água.
A garrafa funcionava como um acesso direto à garganta da terra e à boca da mangueira, suas raízes, que Maria hidratava até três vezes por dia com água fresca do poço artesiano.
Em um dia de maio de 2018, um operário do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), no comando de uma escavadeira, arrancou o pé de manga manteiga. A operação durou menos de dez minutos.
Maria viu a derrubada, e quando a árvore ia tombando, foi pra dentro de casa para não chorar. Além da mangueira, o operário arrancou também três pés de jambo plantados por Maria. Próximos da mangueira, eles faziam uma sombra confortável na frente da casa dos lavradores.
Mesmo morto, um dos pés de jambo foi replantado pelos operários diante da residência do casal. Raquítica e com as folhas esturricadas pelo sol, a árvore ainda carregava uma numeração vermelha no corpo feita a tinta por um operário. O jambo morto, numerado, virou um estranho monumento diante da casa de taipa, um defunto em pé que vigia as obras de duplicação da BR 135.